sexta-feira, 29 de junho de 2007

O que o carioca tem

Este artigo foi escrito com base na reportagem "Famílias acusam polícia de matar inocentes no Rio", publicada pela Folha Online.
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Por Kurt


O governo do estado do Rio de Janeiro tem autorizado, como nunca se vira antes, a intervenção maciça por parte das polícias civil e militar, com o apoio da Força Nacional de Segurança, nas favelas da região. Aparentemente, de uma vez por todas querem acabar com o domínio do crime organizado nos morros cariocas, especialmente no denominado “Complexo do Alemão”. Por aproximadamente R$1.500,00 mensais, policiais civis e militares travam batalhas análogas àquelas que vemos diariamente ocorrer no Iraque, Israel e Palestina. Esses policiais são verdadeiros heróis, e por que não dizer “loucos”? Sim, loucos, pois a Comissão de Direitos Humanos da OAB já está se movimentando e se apressou em atribuir à operação policial o título de “massacre de civis”, alegando que apenas oito dos dezenove mortos no último confronto eram realmente traficantes. Os policiais são, por dedução lógica, assassinos que entram nas favelas e colocam em risco suas vidas pelo incomparável prazer de matar criancinhas. Moral da história: arrisque sua vida, ganhe pouco dinheiro e ainda fama de sanguinário. Divagando por estas linhas, tentei entender quem eram os outros mortos e por que nenhum deles era um idoso ou uma mulher de meia idade. Talvez o Dr. João Tancredo, da brilhante comissão de direitos humanos da OAB possa esclarecer. Se fora através da combinação do depoimento das famílias e da análise dos antecedentes criminais dos mortos, realmente o Sr. Tancredo precisa voltar aos bancos da escola, da escola da vida. Exigiria, para nomeação no cargo que ocupa, a ingenuidade como requisito indispensável? Pena, pois a escola da vida não permite o ingresso de repetentes.

Como já estava dispensando à OAB maior atenção do que o assunto merece e como o leitor já devia estar cansado dele, vou me voltar agora à Anistia Internacional, que, por meio do ativista Patrick Wilcken, que pelo estrangeirismo do nome não é carioca, classificou a ação policial nas favelas do Rio de Janeiro como “violenta e caótica”. Claro, ele é britânico! Como não pensei nisso antes? Outrora, cantou Caetano Veloso que “Londres é gostosa assim. Cruzo as ruas sem medo” (tradução livre de trecho da canção London London). O Sr. Wilcken não ousaria cantar essas palavras sobre o Rio. Primeiramente, porque talvez não saiba cantar como Caetano. Depois, porque Wilcken vive em uma cidade na qual boa parte de seus policiais sequer porta armas letais. Não precisaria ser inteligente para perceber que a violência e o caos desceram os morros cariocas e se alastraram por cada rua e avenida da cidade há tempos. Bastaria ser bem-intencionado.

Quaisquer que sejam as razões que levaram a OAB a defender os interesses do crime organizado, e da Anistia Internacional em meter o bedelho no Brasil sem conhecimento de causa, a verdade é que parece não interessar a quase ninguém que a violência, a corrupção e o tráfico de entorpecentes acabem. O jogo do bicho e o tráfico de drogas patrocinam as escolas de samba cariocas; a corrupção permite a compra de decisões judiciais, do Ministério Público e da polícia; e o tráfico de drogas paga a conta de tudo isso e ainda ajuda a movimentar a economia. A “máquina” funcionava a todo vapor. Tolerou-se por décadas o “inofensivo” Jogo do Bicho, pois era fonte de receita que, em forma de propina, alimentava todos os escalões do poder. Em troca, e como investimento alternativo para os bicheiros, estes patrocinavam o carnaval, atraindo milhares de turistas estrangeiros à cidade maravilhosa. Hoje, esses mesmos turistas cortaram o Rio de Janeiro de seus roteiros, repelidos pela violência hodiernamente noticiada pelos meios de comunicação de todo o mundo, e os jovens de hoje já não se interessam pelo jogo do bicho. Só restou o fato de que o Rio de Janeiro hoje é carta fora do baralho do turismo para a maioria dos estrangeiros e também dos brasileiros. E pode colocar meu nome aí.

Talvez haja uma solução para agradar essas minorias barulhentas: que tal se formassem a escola de samba da polícia, para que todo seu efetivo desfilasse no carnaval do Rio? Se quiserem um nome para batizar a escola, eu sugiro “Unidos do Caveirão”. Que tal? Eu até proporia um carro alegórico – blindado, é claro – para os membros OAB, mas tenho para eles uma tarefa mais importante. Enquanto a polícia desfilaria elegantemente pelo tapete de concreto da Sapucaí, a Comissão de Direitos Humanos da OAB fundaria a Seccional “Complexo do Alemão”, com sede em um barracão equipado com um freezer com capacidade para cinqüenta cadáveres, para que eles mesmos recolhessem os corpos e realizassem as perícias, pois a polícia, nesse momento, estaria muito ocupada no sambódromo, contando com a Ala dos Médicos Legistas, todos com fantasias brancas lavadas em sangue e usando máscaras com nariz de Pinóquio. E me arriscaria até a sugerir o samba enredo, cujo refrão apregoaria algo mais ou menos assim: “a polícia vai subir / a polícia vai subir / mas não é a Favela do Cruzeiro / é a Sapucaí”. E aí, quem garante, as coisas melhorassem, seja porque dera certo, seja porque dera morte, seja porque dera apoteose.

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